
A procura por psicólogos está mais presente nos tempos de
hoje. O sofrimento psíquico vai enunciando alguns nomes e sobrenomes que
aparecem com cada vez mais frequência: depressão, ansiedade, pânico e TDAH.
Brincando com as imagens; um “satélite simbólico” que nos orbita
enquanto sociedade e cultura a respeito do sofrimento e também da aceitação da
psicologia enquanto fonte de saber e potencial de cura, lhes faço um convite
para irmos além da nomenclatura e nos aprofundarmos neste fenômeno, da velocidade que vivemos, à luz de
nosso contexto mundano, histórico, psicológico e social.
Enquanto cidadãos e membros desta “cultura tec”, sofremos o apelo da
alta velocidade dos acontecimentos da vida, algo que têm se acentuado a cada
dia por conta da tecnologia, do fluxo de informações, da falta de recursos,
entre outras mil variáveis advindas das mudanças e modificações do início deste
século. Fato é que a velocidade com a qual nos concentramos e nos debruçamos
sobre as questões do dia a dia está aumentando.
Como panorama geral, em uma vida cujo Wi-Fi é quase tão importante quanto um
copo de água, os fios literais desaparecem e os laços sociais se estreitam. A
própria busca por atendimento psicológico, bem como qualquer forma de atividade
ou serviço torna-se cada vez mais presente nos grandes fóruns das mídias
sociais. A procura por atendimentos e recomendações que se davam apenas no
“boca a boca”, hoje se dão em massa nos grupos de Facebook, no
Twitter e no Instagram.
As conversas de WhatsApp são, hoje, o nosso principal canal de comunicação.
Como psicólogo-músico, não consigo deixar de pensar em como também se dá, no
apelo da velocidade e virtualidade, um certo tipo de estreitamento da nossa
comunicação. A falta de musicalidade na comunicação digital.
Pensando na musicalidade como parte importante da comunicação, que se estreita
na falta de um “tom de voz”, do silêncio e do ritmo do discurso, nas
pausas pensativas-compreensivas que dizem ao outro que a mensagem foi recebida,
do timbre de voz que destaca a intenção.
É claro que existe uma radicalidade aí. Sim, fica cada vez mais fácil trocar
uma mensagem com a sua tia que vive do outro lado do continente. Mas é radical
também e, igualmente raro hoje em dia, receber a ligação de alguém que não seja
do telemarketing. Fazer ligações e enviar longos áudios no “Whats” se
tornou praticamente um “ataque” à etiqueta. A mensagem de texto
imperou.
Pensar a clínica psicológica hoje, envolve esta reflexão. Este “estar
situado” e levar em pauta o contexto “tec” da cultura que
vivemos: a velocidade com a qual a vida acontece e que nos é introjetada de
forma consciente ou não. Será que a nossa relação com o futuro e com o passado
não sofre o apelo do nosso mundo moderno? Aprender um instrumento, ler um
livro, fazer terapia, entre outras muitas atividades, sofrem este apelo e se
tornam práticas muito penosas na medida em que as dificuldades e o tempo de
investimento começam a perder afinidade.
A ansiedade é um tipo de relação com o futuro. O novo está sempre aí e somos o
tempo todo bombardiados de estímulos, compreendo que a expectativa e o modo de
viver o tempo será interpelado por essa nova condição de existir, um existir em
agilidade, no futuro. Será que isso nos permite a paciência necessária para nos
ouvirmos? Para nos ouvirmos enquanto comunidade humana? Para permitir-nos dar
um ritmo e um tempo subjetivo à nossa própria experiência e, assim, dar tempo a
palavra, dar ritmo a dor, dar voz a cura e timbrar as dificuldades?
Perfeita sua reflexão!
Adorei o texto, parabéns!